• terça-feira, agosto 01, 2017
  • By Elizabeth França
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A coruja e o girassol

Chegava à ave soberana da noite, com seus hábitos notívagos, voo silencioso e cativo sem escapatória, sem deixar de suas presas quaisquer vestígios. Mensageira da morte, das bruxas, símbolo preferido de Atena e da filosofia.
Coberta de mistério, inteligência, sensibilidade e sabedoria, apurando seu conhecimento para conseguir enxergar o que ninguém mais via, olhos de lua cheia iluminados na escuridão, olhos de fogo e cinzas, acuando o escorpião.
Imersa nas sombras da noite, condição que dá asas à reflexão, razão e intuição juntas na caça, procurando brechas nas janelas, se apoderando do interior sem quebrar vidraças. É dama seleta, profunda e conhecedora do oculto, sonda discretamente, sem deixar respingos de feridas abertas, numa espécie de cura do que há de mais inculto. Se desperta temor, é um tanto hostilizada, mas ao conquistar é terno seu misticismo, protegendo e cuidando com sua intensidade iluminada.
Na estrada empoeirada, ave planava com seu talismã sagrado, amuleto recebido de alma soberana e por si só encantado. Precipício íntimo cuja profundidade não foi divulgada, sem isolamento, em seu fundo, interditada à coragem em não ser namorada. 
Uma jovem ninfa radiante se apaixonou perdidamente por Hélio o deus Sol, mas após uma aterradora decepção por ter sido trocada por outra, ficou tão desolada que começou a enfraquecer de tanto chorar, sentou-se no chão frio não comia nem bebia e se nutria apenas de suas próprias lágrimas, prostrada só tinha forças para acompanhar o sol enquanto estava no céu sem desviar o seu olhar um segundo sequer, a chegada do pôr-do-sol, era sinônimo de pranto em meio à escuridão da noite e com o passar do tempo seus pés ganharam raízes e a sua face transformou-se numa flor para que continuasse seguindo o sol, assim surgiu o primeiro girassol.
Com sua corola voltada ao sol nascente e poente para sobreviver, traz em sua simbologia a sorte e felicidade a florescer, seja na Hungria com sementes nas janelas concebendo um menino, seja na Espanha a sorte com onze gineceus concebidos, flor do sol refletindo sua energia positiva e que desconhece a altivez, grão de pólen germinando lealdade, transferindo calor com certa timidez.
Era um gélido mês, naquela fria multidão, a beira de águas turvas e pesadas, ventos movidos sem direção, tinha deck, e tinha palco, o teatro era mágico e encantava a essência e paciência, emocionava. Diante daquela noite havia majestosa e secreta lua, neblina ia e vinha, abraçava e se escondia. No caminho, o calor febril o toque manso a mão gélida aquecia e no colo aconchegante, nisto a ave bela adormecia.
Era no destino final o início da partida, as idas pela vinda a iniciam sem volta. E na sua porta, vestida de azul surpresa, a tarde era linda, o dia correu e a prosa voou, foi embora para estar de volta e nunca mais partir, pois um nicho encontrou.
Camuflados em meio à penugem estava à chave para sorrir, renascer para viver sem lamentos, tristezas, mágoas, dor, nem solidão já tão remoídos, com voz sutil e palavras fortes, no mais solúvel líquido da compreensão os tormentos foram diluídos, ensinando e aprendendo a enxergar e conhecer a compaixão, era paz e encantamento, escolhas feitas inconscientemente de corações bagunçados.
Passos e destinos cruzados, história marcada com pontas atadas e seladas, sem entrelinhas codificadas no olhar. Quebrando regras, o paradoxo, água e ar, decidiram à exceção se misturar. Palado, lunático, esquecido, sistemático, forte apego materno, com caráter telepático, viagens intelectuais insólitas e indeléveis.
Vestido com caráter insólito, suas diversas versões por vezes se despiam, seu escudo contra as mazelas, embebido de carinho simplório do bem-estar, nasce a mais verossímil admiração dele e dela.
Experiências impressas, ressaltadas pela sinestesia, livremente ouvindo o chamado da troca de energia. Era cuidado pela necessidade de se proteger, estando distante sem se ausentar e doando sem esperar receber.
Luz do sol, que dorme em dias de chuva, não se envergonha nem se acanha e por respeito se ofusca. Carrega consigo o bem-me-quer e o malmequer, deixou ser levado pelo vento, para de quanto em quanto ser visitado por bons momentos. Esfera incandescente de mãos dadas com a morada do dragão feroz, um entrosamento diferente, uma relação vivida e sentida num mundo paralelo a sós.
Em toda história nunca havia tido tanta linha em uma única chamada, tão rica e com estórias reveladas. Seus olhos de girassol tem o preferido abraço singelo, o ganho eterno, o sentimento que não se mede, porque só tu sol sabes a falta que a estrela cadente faz quando se despede.
Só o tempo sabe o que fazer e como se preparar para cada estação, seja florindo o coração na primavera para que no verão o faça secar, ou no outono cobri-lo de espera, até a hora do gelo do inverno se quebrar. Carinho que faz queimar o peito e arder à envergadura, frio calculado a ser acolhido com ternura, onde não há melindres é onde há amor, não há saudade que não aflige, mas há utopia que não causa dor.
Serendipidade, anglicismo que melhor os descreve, é com sinceridade que o ceticismo não se faz breve. Devolva a madrugada que no seu escuro ela irá dormir, preserve-se por que em todo interior existe algo e ela veio pra o descobrir.
É Vênus Electra, temperamento desconcertante e enigmático, magnetismo estonteante despertando ciúme dramático. Pé frio e firme que com sutileza derruba a fraqueza. É com tolerância e inteligência que persuade com clareza, é tão eufêmica que seu léxico doce, encobre todo fel que há na obscuridade do mundo.
Transforma veneno em melaço, vívido o que já era moribundo.  Vem com impiedosa força de vontade e indisciplina, acha que controlar é melhor do que ser controlada e de tudo desconfia. Não tente decifrá-la para não embaralhar a lógica linear da conquista. Sentimento e emoção significam aversão à superficialidade e futilidade, mas não se abata de ódio por ela, por não a temer e não conhecê-la na verdade.
Traz a chuva que rega a flor preferida, para o sol renascer sempre disposto como se não houvesse partida. Hórus com olhos de Iah, Máni, Freyer, Selene, Rá, codinomes usados ao longo do tempo, para disfarçar. Lábios rubros, maçãs coradas e febris, que cantam como se fossem assobios , entorpecem o abrigo da rara íris, o toca com arrepios.
Opala de fogo que guarda em si o pôr-do-sol. Ágata de fogo que enfeita, mas que em efeito hipnotiza. Hematita, turmalina, purifica. Diante do girassol sempre haverá luz e da coruja sempre haverá lua. Ainda que seja cedo, não há pressa, pois não existe o intervalo de tempo, é tarde demais. Juntos tinham a liberdade de serem estranhos e bizarros, durante a comunicação fluída, pairava no ar o aroma mesclado a essência única floral de baunilha com café e cigarro.

As janelas da alma estarão abertas para as frustrações os raios de sol quarar. Alvorada que está fadada a fazer à noite esperar para se mostrar, adaga afiada que serpenteia e se afaga no amor que cabe a poesia guardar...

Considerações: A vida é poiesis, é ironia, contradição. No belo e na ordem ela idealizou suas emoções e como a realidade é o peso da dor, ela cresceu, descobriu, sentiu as verdadeiras emoções, transmitiu e sorriu mais um dia na escuridão, viva o momento, viva o amor, pois ele é alegria e dor! Carpe Dien!

Autoria: Ellen Cristina 
ellencb6@hotmail.com


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