A coruja e o lobo

  • sexta-feira, setembro 01, 2017
  • By Elizabeth França
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Posou-se no banco a espera do nada, não tinha futuro aquela vazia praça. Na chegada inesperada o papo surpresa do trio acompanhante, mas só um aguardara o restante. Encontro inóspito que abriu novas trilhas. Os olhos de lua cheia dela fizeram o lobo solitário uivar e não enxergar a armadilha. Ave que abre seus caminhos ilumina e concebe as sombras onde o lobo fica a espreita.
Ele que sobreviveu a era do gelo logo se derreteu com rodopios serelepes da nova companhia. Os seus instintos latejavam em meio tanta sintonia. Quem ousou te tocar? E se aquecer com seu cobertor a tira colo? Ela sempre ela que encontra seus esconderijos, pretextos viram alicerces pra quem plana em meio ao iminente perigo. Não sabia de seus antecedentes e desastres ancestrais, mas já havia uma linha que os colocavam na mesma teia, seria essa a punição por não se conter diante de amores fatais?
 Nascidos para morrer só se preocupavam em matar o que desvia sua vivacidade, elidem seus pavores em meio à escancarada cumplicidade. Veneno e mel destilados no mesmo frasco dopam e hipnotizam o predador, que se rende e vira presa. Emoção com tom melancólico, mas sóbrio de pieguice, afundando-se em palavras, escrevendo o puro amor, amando ao som de Birdy vontade de afogar a solidão com um bom whisky, reflete na alma e seduz a inspiração, imprimindo em cicatriz a frase homenageada. A escorpiana apaixonante e sincera ensina um novo amor pra ser amada.
Anda vai matar essa vontade de sair correndo só pra olhá-la e ao seu alcance intocável vai viajar. Se for o coração querendo falar, então não o deixe pra lá, nunca se cale diante dele, pois nada não é importante até que se saiba, não se preocupe com o que pode parecer você é responsável pelo que diz e não pela interpretação. Coloca a música pra rodar pra embalar a cena e sua descrição.
O Lobo põe suas patas na altura da cintura dela, enquanto a outra desliza pelo pescoço esguio, diante de olhares assustados de todos que se encontram na mata, entrelaça seus pêlos na penugem, encosta seu focinho no bico, se olham fixamente, fecham os olhos. Ele acorda com os grunhidos antes da alvorada sentindo-se faminto e feroz. A pálida lua ganho brilho com um sopro de vida vindo do selvagem que uiva a uma só voz.
Veio com seu mistério encantador, angariando histórias e acobertando segredos, sabe que sua presença atormenta, mas entorpece os nervos. Em meio tantas coisas guardadas, a íris translucida revela seus guardados sem pestanejar, diante da bela e jovem ave ele sabe que não deve hesitar. Sua personalidade vil e impiedosa não permite se ferir alimentando coisas passionais. O que ele poderia ter mudado foi fluindo num manso ritmo e ficou pra trás. Correu tanto, por imensos vales que não se atentou ao chegar ao imprevisível precipício íntimo cuja profundidade não foi divulgada, sem isolamento, cujas sensações se misturam, à neblina e o sol se alternam e coexistem assim como o tudo e o nada.
O seu tipo de amante é algo sem definição, animal poético que perde seus sentidos em meio a devaneios na madrugada. Apaixonante ser que sorri sem medo de mostrar seus enormes dentes, que morde sem machucar, que cala quando está bravo e esbraveja ao ver errando, apaixonante ser que procura um colo, mas concede o próprio, ainda sim incentiva no mais errante que seja. Apaixonante é ao demostrar que a fera possui sentimentos, virtudes e defeitos é aquele que está oculto e calado, sentado ao seu lado e sabes que estará sempre a teu lado.
De voo em voo paira em si mesma lavando-se em pranto, encharca a alma. Foge ao saber que pode ser roubada por aquele que se contenta com o arrepio de sentir o seu perfume, só para passar noites em claro, chamar o sol e se esconder em pequenas gravações oculares, memoráveis registros do preferido sorriso, para levar consigo aquilo demais sincero que teve na vida.
Novamente em sua mente, lá estava sem fazer barulho, espectadora de canto, no ponto cego a todo espetáculo enxergar... Estavam ali, sentindo o cheiro e sabor do perigo, a rocha era o palco, garras corriam pela penugem contrastada em preto e cinza, imaginava como seria beijá-la, fruta almiscarada sem casca, em sua flor da idade, consistente sob a meia luz de uma fogueira apagando-se sem lenha.
Deslizava a imensa mandíbula por cada centímetro do pequenino corpo, seu sabor, seu cheiro o entorpecia e levava-o ao delírio do êxtase, toques íntimos, vulneráveis ao prazer, simplesmente ninfa. Dizia sim o que era errado, mas não impedia de continuar, não se tratava de troféu, nem julgamento, o prazer estava no ar.
Mordiscou e causou um gemido longo e suave, as unhas marcaram o dorso ao comprimi-la, estremeceu, sorriu, passou a mão no focinho, encostou, vagarosamente começou a movimentar, um lado depois outro, apertando- a contra a face, sentindo sua respiração ofegante, ao seu ouvido, até o gemido final, cravando suas unhas profundamente no seu dorso à sua assinatura.
 Ao retornar do clímax continuou com ela, se encostaram, trocaram carícias, sorrisos. Foram se refrescar numa cascata, ela não sabia nadar, as asas precisaram das patas, envergonhada, não conseguia fixar os olhos nos dele, mas ainda sim, sorria incrédula no que acabara de acontecer, encostaram-se à margem do rio, fez do peito seu travesseiro e fez dela seu amor, sua pequena, aprenderam que a vida é uma divina comédia.
Tem o charme do amanhecer, seus sinais inscritos já decifrados por quem não cansa de lhe admirar, sabedoria que assusta e tira a paz de quem não compreende, meiguice que insulta quem não sabe o que é amar e faz arder em quem sente. Não a deixe triste não a faça chorar, sabem que o amor tem espinhos, mas as rosas não deixam de plantar. Adocicado gelo, passas e rum se combinam, não tem melhor sobremesa quando juntos se ensinam.
Deixa escorrer o precioso mel, para aquilo que não é efêmero nem fugaz. Vênus e Plutão girando na mesma órbita numa espécie de completude voraz. Água nutrindo e preservando terra, florindo e angariando frutos, misturando-se e fazendo lama, sentimento lúdico, ludibriando o evanescente desespero que dá lugar ao deleite eterno.
A alma elétrica e sua pseudoliberdade, voa sabendo até onde pode chegar, descobriu como se faz pra ir além das fronteiras, pois o amor nunca foi um país e sim uma fortaleza que a qualquer momento pode se hospedar. Diamante perdido em meio ao cascalho, com sua luz o fez brilhar, diante de seus olhos o que é tenebroso se ofusca a beleza não tem medo de se mostrar. Fera curando feridas com pragmatismo simplório de braços dados com a compaixão. Philia os descreve na mais genuína inspiração. Aprendeu a colher flores sem rasgá-las só pra presentear a ave de rapina, apaga ao dia e ascende à noite fria, logo se abafa com a intensidade envolvente de sua bela parceria. Confuso lobo em tempos de bagunça e baderna, se encantou com oposto implacável. Soube que jamais estaria só e que não mais esconderia suas cicatrizes, pois sua pequenina ave lhe traria novas marcas, mas desta vez com lembranças felizes.


Considerações: Sabendo que um dizer pode por fim, ainda tem tempo de saber que viveu, sorriu, chorou e amou. Que a loucura deixa a insanidade correr nas veias e fazer suar. O coração pula, chora, sorri, canta e desmaia. Ressuscita num pulso explosivo de glória, está embebido de pulsão de vida. Jogou para fora suas fantasias e desejos. Mostrou que a ferocidade do lobo é carinhosa ao cair nas garras da coruja que graceja com seu paralisante olhar. Carpie dien!

Autora: Ellen Cristina 
ellencb6@hotmail.com

Créditos imagem: https://pixabay.com/pt/lua-lobo-noite-uivo-lua-cheia-2351304/

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